A crise que corrói a Grécia tem revelado a esquizofrenia em que se tornou o euro. Desde o seu início, no princípio do novo século, sabia-se que o euro era um projecto arriscado. Ao contrário dos EUA, não havia entre os países da Europa nem mobilidade perfeita das pessoas nem a mesma língua ou o mesmo sistema legal. Além disso, em quase todos os países da Europa os mercados de trabalho são complexos e nada flexíveis. Este conjunto de circunstâncias dava, e ainda dá, uma enorme "rigidez microeconómica" aos países, que não existe na América. Contudo, os europeus construíram o euro com regras do deficit e da dívida pública que acrescentaram à rigidez "micro" uma enorme rigidez macroeconómica, tornando o euro num verdadeiro colete-de--forças. Para convencer os alemães a abandonarem o sacrossanto marco, franceses, italianos e todos os outros aceitaram este impensável garrote sobre as suas economias, e o projecto avançou.
Com o passar dos anos, duas realidades se verificaram: a disciplina financeira dos Estados, que supostamente o euro iria garantir, nunca se conseguiu, nem sequer na Alemanha ou em França. Além disso, a maioria dos governos nacionais tinha terríveis dificuldades em ser reeleita, tornando o euro um cemitério de governos.
Quando a crise violenta chegou, em meados de 2008, todos os deficits explodiram, e o euro não protegeu ninguém contra uma dolorosa recessão. Pior: num acesso puro de irrealismo, o euro impõe ainda mais sacrifícios, como se vê pelo PEC português. Para satisfazer os alemães, os países mais frágeis, quer tenham sido irresponsáveis, como a Grécia, ou não tenham sido, como Portugal ou Espanha, irão ser obrigados a uma austeridade violenta, sob uma constante ameaça de expulsão ditada pelos alemães.
A esquizofrenia é cada vez maior. Em vez de reconhecerem, todos, que as regras do euro são absurdas e que é necessário torná-las mais flexíveis, os europeus continuam alegremente a marchar a caminho do abismo.O terrível egoísmo da Srª Merkel já obrigou a Irlanda a absurdos "cortes", já humilhou violentamente a Grécia, e faz uma pressão contínua sobre Portugal e Espanha. Sócrates cedeu e apresentou um PEC que é um verdadeiro castigo, e ainda por cima inútil. A descida do deficit não garante nem a recuperação económica do país, que não irá acontecer; nem a sobrevivência política de Sócrates; nem que os alemães não nos escorracem, quando lhes apetecer, para fora do euro. Vamos, todos, a caminho do matadouro.
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